O que é Legal Hold e sua função na governança jurídica corporativa

Entenda o que é Legal Hold, quando aplicar e como preservar provas digitais com segurança jurídica em ambientes corporativos.

user Tiago Fachini calendar--v1 17 de novembro de 2025

Se sua empresa ainda não tem um processo formal de Legal Hold, você está assumindo um risco enorme com dados que podem ser essenciais em um litígio. O conceito pode parecer técnico, mas sua aplicação é prática e urgente: preservar provas digitais de forma segura, defensável e alinhada à governança corporativa.

Neste artigo, você vai entender o que é Legal Hold, porque ele é vital para o departamento jurídico e como aplicá-lo com eficiência em ambientes digitais.

Legal Hold (também chamado de retenção legal ou preservação legal) é um procedimento formal pelo qual uma empresa se obriga a manter e proteger todas as informações relevantes em litígios ou investigações.

Em outras palavras, um Legal Hold determina que e-mails, documentos, logs de sistema e demais dados eletrônicos potencialmente usados como prova sejam preservados sem exclusão ou alteração até o encerramento do caso. Essa prática evita a destruição acidental ou intencional de evidências, garantindo a integridade e disponibilidade das informações necessárias ao processo legal.

Em resumo, o Legal Hold fortalece a governança jurídica da empresa ao assegurar que todas as provas digitais sejam mantidas de forma íntegra e auditável.

Do ponto de vista jurídico, implementar um Legal Hold é crucial para evitar riscos legais e garantir a conformidade da empresa. Entre seus principais benefícios estão:

  • Cumprimento das obrigações legais: demonstra diligência na preservação de provas, atendendo a exigências processuais e regulatórias.
  • Evita espoliação de provas: impede a destruição ou alteração indevida de evidências digitais, reduzindo o risco de sanções judiciais por perda de dados.
  • Fortalecimento da defesa: a retenção adequada de dados mostra ao juiz que a empresa agiu corretamente, o que pode reforçar sua posição no litígio.
  • Preservação da cadeia de custódia: garante que todas as evidências permaneçam disponíveis e rastreáveis, mantendo sua integridade para eventual apresentação em juízo.

Essas práticas constroem uma governança jurídica mais sólida. O registro documental de cada etapa fortalece a admissibilidade e demonstra diligência perante autoridades e tribunais. Ou seja, ao provar que cada etapa do hold foi documentada (avisos enviados, confirmações recebidas, sistemas configurados etc.), a empresa aumenta a credibilidade de sua prova e evita alegações de omissão.

Para implementar o Legal Hold no ambiente digital corporativo, a empresa deve agir de forma estruturada e rápida ao identificar um risco de litígio ou investigação. Em geral, seguem-se os seguintes passos:

  1. Identificar o escopo: mapear quais tipos de dados e quais pessoas ou departamentos podem ter informações relevantes (e-mails, arquivos em nuvem, chats, registros financeiros, logs de sistema etc.).
  2. Notificar as partes interessadas: enviar comunicado formal (por exemplo, Legal Hold notice) aos funcionários, prestadores e terceiros afetados, informando que devem preservar os dados relacionados ao caso. As instruções devem ser claras e especificar quais informações não podem ser descartadas.
  3. Suspender exclusões automáticas: interromper imediatamente qualquer política que apague e-mails, documentos ou backups automaticamente. Isso inclui desabilitar expurgo periódico de caixas-postais, rotinas de limpeza de arquivos, ciclos de reutilização de backups etc.
  4. Proteger e coletar evidências: utilizar ferramentas de eDiscovery ou perícia forense para copiar e armazenar de forma segura os dados-chave. Cada coleta deve gerar evidências de cadeia de custódia (carimbo de data/hora, hashes, identificação do responsável).
  5. Monitorar a conformidade: realizar treinamentos rápidos para reforçar a obrigação de manter dados intactos e realizar auditorias periódicas para verificar o cumprimento do hold. É importante acompanhar quem recebeu o aviso e se seguiu as instruções.
  6. Encerrar o hold: periodicamente reavalie se o hold ainda é necessário. Quando o litígio for encerrado ou a investigação concluída, emita uma notificação formal para suspender o Legal Hold, liberando gradualmente as retenções especiais.

Esses passos garantem um processo defensável de preservação. Definir escopo, notificar, suspender destruição, proteger documentos, monitorar e, por fim, encerrar a retenção são práticas fundamentais para não deixar lacunas que possam comprometer as evidências.

Em ambientes corporativos, o Legal Hold deve abranger diversos sistemas de informação. Exemplos típicos incluem:

  • E-mails corporativos: colocar caixas-postais em suspensão de litígio no Exchange Online ou reter e-mails no Gmail/Google Workspace.
  • Documentos e arquivos em nuvem: aplicar rótulos de retenção no SharePoint ou OneDrive, ou usar guardas de documentos no Google Vault.
  • Mensagens instantâneas e chats: registrar conversas do Microsoft Teams, Slack, WhatsApp Business ou outros sistemas de chat.
  • Sistemas legados e bases de dados: suspender limpeza automática de logs de transações financeiras, registros de ERP, CRMs, sistemas de RH etc.
  • Backups e arquivamento: assegurar que fitas e cópias de segurança não sejam sobrescritas.

TI e jurídico devem trabalhar juntos para identificar todos os custodiantes e fontes críticas, sem ignorar qualquer repositório. Essa coordenação é vital para não haver brechas na preservação.

A efetividade do Legal Hold depende de responsabilidades bem definidas:

  • Quem decide: normalmente, o departamento jurídico (ou compliance) avalia o caso e determina a necessidade do hold.
  • Quem comunica: o jurídico prepara um aviso formal de Legal Hold e envia aos custodians (funcionários ou departamentos que possuem os dados).
  • Documentação: tudo deve ser registrado — cópias dos avisos, confirmações dos destinatários, logs das ações técnicas e lembretes enviados.

O jurídico define e comunica o hold, a TI executa as medidas técnicas e os custodians obedecem preservando os dados. Todo o processo deve ser documentado para posterior comprovação.

Durante um Legal Hold, todas as políticas automáticas de retenção ou descarte devem ser sobrescritas pela ordem legal. Exemplos:

  • Emails: habilitar a suspensão de litígio no Exchange ou ajustar regras de retenção no Gmail.
  • Documentos e arquivos: desativar regras de limpeza automática por inatividade em OneDrive, SharePoint ou Google Drive.
  • Backups e armazenamento: pausar processos de rotação de backups.
  • Sistemas e aplicativos: suspender scripts ou rotinas que apagam logs ou dados sensíveis.

O objetivo é impedir qualquer destruição automática de dados que possam servir como evidência.

Algumas práticas recomendadas:

  • Política centralizada: definir procedimentos internos claros sobre quando e como aplicar o Legal Hold.
  • Automatizar com tecnologia: usar soluções como Microsoft Purview, Google Vault, Relativity, Exterro ou Disco.
  • Comunicação eficaz: usar modelos claros de aviso, com linguagem acessível e instruções objetivas.
  • Monitoramento e atualização: revisar regularmente os holds ativos e enviar lembretes periódicos.
  • Treinamento e auditoria: capacitar as equipes envolvidas e revisar casos anteriores para aprender com a prática.

A automação de alertas e o uso de trilhas de auditoria nas ferramentas garantem agilidade e segurança jurídica.

Perguntas frequentes

1. O que é Legal Hold?

É um procedimento jurídico que suspende temporariamente a exclusão ou alteração de dados quando há risco de litígio ou investigação. Garante a preservação de informações potencialmente relevantes como prova.

2. Quando um Legal Hold deve ser aplicado?

Sempre que a empresa tiver conhecimento de um litígio em curso ou quando houver expectativa razoável de disputa judicial, auditoria ou investigação regulatória. A adoção deve ser imediata para evitar perda de evidências.

3. Quem é responsável por executar o Legal Hold?

A decisão parte do departamento jurídico, que identifica os dados e os custodians envolvidos. A equipe de TI implementa as travas técnicas nos sistemas e garante que as rotinas de descarte automático sejam suspensas.

Conclusão

Implementar um Legal Hold robusto é fundamental para proteger os interesses legais da empresa. Ao exigir a retenção sistemática de evidências digitais, o Legal Hold ajuda a evitar problemas legais sérios e reforça a credibilidade da organização.

Cumprir essa exigência implica agir preventivamente, documentar cada etapa do processo, envolver jurídico e TI, e usar ferramentas adequadas. Assim, o Legal Hold deixa de ser apenas uma medida reativa e se torna um componente estratégico da governança e conformidade da empresa.

Tiago Fachini - Especialista em marketing jurídico

Mais de 300 mil ouvidas no JurisCast. Mais de 1.200 artigos publicados no blog Jurídico de Resultados. Especialista em Marketing Jurídico. Palestrante, professor e um apaixonado por um mundo jurídico cada vez mais inteligente e eficiente. Siga @tiagofachini no Youtube, Instagram e Linkedin.

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