Segurança digital e proteção de dados para escritórios e departamentos jurídicos

Saiba como melhorar a segurança digital do seu escritório e departamento: boas práticas, gestão de certificados e proteção de dados

user Tiago Fachini calendar--v1 21 de agosto de 2025

Escritórios de advocacia e departamentos jurídicos lidam diariamente com informações estratégicas e sigilosas, o que os torna alvos frequentes de cibercriminosos. Com o aumento exponencial dos ataques nos últimos anos, investir em segurança digital e proteção de dados é essencial para proteger dados valiosos e garantir a confiança dos clientes.

Um vazamento ou sequestro de dados sigilosos pode causar prejuízos financeiros, danos irreparáveis à reputação e multas sob a LGPD. A criação do Observatório de Cibersegurança e Proteção de Dados pela OAB em 2024 ilustra a urgência do tema.

Assim, reforçar a segurança digital e a proteção de dados é fundamental para manter a integridade das operações do escritório e a confiança dos clientes.

Principais ameaças digitais na advocacia

Escritórios e departamento jurídicos não são apenas alvos por possuírem dinheiro: eles guardam estratégias, documentos confidenciais e prazos que podem ser explorados por criminosos. Entender algumas das ameaças reais pode ajudar a priorizar defesas.

Entre os riscos mais presentes, o phishing continua no topo. Não se trata mais apenas de um e-mail mal escrito: hoje os golpistas reproduzem portais de tribunais, avisos de intimação e plataformas de clientes com aparência quase idêntica. Um clique em um link falso pode roubar credenciais ou ativar malwares sem deixar sinais imediatos.

Outro tipo de golpe muito conhecido é o ransomware, um software malicioso que criptografa arquivos e impede o acesso aos documentos do escritório, exigindo resgate. As variantes mais perigosas não só bloqueiam o sistema, mas também exfiltram (copiam) arquivos sensíveis antes de criptografar, aumentando a pressão para pagamento pela ameaça de divulgação.

Isso pode acarretar diversos problemas sérios, como a exposição de informações confidenciais de clientes.

O armazenamento inseguro de certificados e tokens também se destaca como um grande problema no meio jurídico. Isso porque os certificados digitais, chaves e tokens são identidades eletrônicas que permitem assinar petições e acessar portais judiciais.

Não ter um armazenamento seguro desses certificados é uma falha de segurança digital muito grave. Pois permite que terceiros os usem eles para acessar sistemas como se fossem o escritório e até mesmo para assinar documentos.

Outros riscos de segurança digital no direito:

  • Comprometimento de contas de parceiros e fornecedores: um ataque ao provedor de automação processual ou a um contador pode funcionar como “atalho” para chegar aos seus dados. Esse risco cresce quando terceiros têm acessos amplos sem controles.
  • Erro humano e configurações inseguras: compartilhamento de pastas sem restrição, uso de Wi-Fi público em computadores ou celulares com dados sensíveis ou falhas em permissões de pastas são portas de entrada comuns e evitáveis.
  • Ameaças internas: colaboradores desatentos que copiam dados para drives pessoais, ou que saem do escritório sem revogar acessos, também criam vulnerabilidades.

Cada uma dessas ameaças exige respostas diferentes: prevenção técnica, processos claros e supervisão contínua. Reconhecer o vetor de ataque (e-mail, fornecedor, dispositivo perdido) acelera a contenção e a recuperação.

Boas práticas de segurança digital para escritórios e departamento jurídicos

Em vez de uma “receita única”, a proteção eficaz mistura tecnologia, processos e comportamento. Abaixo está um conjunto de medidas práticas que todo escritório jurídico pode começar a aplicar hoje:

Estratégia em camadas (defesa em profundidade):

  • Controle de perímetro (firewall, VPN para acessos remotos);
  • Proteção de endpoints (antivírus/antimalware com atualizações automáticas);
  • Criptografia de dados em trânsito e em repouso para documentos sensíveis.

Gerenciamento rigoroso de acessos

  • Adote o princípio do menor privilégio: cada usuário só tem o que precisa para o trabalho;
  • Revise permissões periodicamente (ex.: após desligamento, função alterada ou estágio);
  • Implemente autenticação multifator (MFA) em todos os sistemas críticos (e-mail, ERP, plataformas de tribunais).

Cofre de credenciais e gestão de certificados

  • Remova certificados e tokens dos dispositivos pessoais; centralize o armazenamento em um cofre seguro que registre cada liberação de uso.
  • Use soluções que permitam delegar o uso sem expor a chave bruta — isso reduz o risco de assinatura fraudulenta. (Ex.: cofres digitais com logs de auditoria.)

Atualização e gestão de patches

  • Tenha uma rotina de atualização automática para sistemas operacionais, navegadores e softwares jurídicos.
  • Teste atualizações em um ambiente controlado para evitar incompatibilidades críticas com ferramentas de peticionamento.

Backups testados e segregados

  • Configure backups automáticos com retenção por várias versões e armazene cópias isoladas da rede principal (air-gapped ou nuvem com versionamento).
  • Faça testes de restauração periódicos para garantir que os backups funcionem quando necessários.

Segurança para trabalho remoto

  • Exija VPN com autenticação forte para qualquer acesso remoto.
  • Proíba acesso por dispositivos não gerenciados (BYOD) a sistemas sensíveis, ou limite-os estritamente com soluções de gestão de dispositivos móveis (MDM).

Proteção do navegador e do e-mail

  • Use extensões de navegação que bloqueiem sites maliciosos e scripts suspeitos.
  • Ative filtros de spam e análise de anexos no servidor de e-mail; trate anexos executáveis como bloqueados por política.

Política de senhas e uso de cofres

  • Proíba reutilização de senhas e adote gerenciadores de senhas corporativos para compartilhar credenciais de forma segura entre membros da equipe.
  • Exija senhas longas e frases de senha para contas sensíveis.

Plano de resposta a incidentes

  • Tenha um playbook simples: quem isola máquinas, quem comunica clientes, quais sistemas desligar, onde restaurar backups.
  • Realize simulações anuais (ex.: tabletop exercise) para validar processos e tempos de resposta.

Gerenciamento de terceiros

  • Avalie os controles de segurança de fornecedores que têm acesso a dados ou sistemas.
  • Exija cláusulas contratuais sobre proteção de dados e plano de resposta a incidentes.

Treinamento contínuo da equipe

  • Faça sessões curtas e recorrentes sobre phishing, uso seguro de dispositivos e políticas internas.
  • Envie simulações de phishing com feedback educativo para quem clicar.

Checklist rápido — Ações que você pode implantar já:

  • Habilitar MFA em todos os logins administrativos.
  • Programar backups diários e testar uma restauração.
  • Centralizar certificados em um cofre digital seguro.
  • Bloquear macros e executar políticas de anexos no e-mail.
  • Rodar uma varredura completa de antivírus em todas as máquinas.

Implementar algumas dessas práticas, como MFA, criptografia, backups, treinamento e monitoramento, é considerado hoje um passo básico para reduzir riscos e garantir a conformidade com a LGPD no âmbito jurídico.

Proteção contra vírus, malwares e golpes online

Parte essencial da segurança digital é manter sistemas e dispositivos livres de programas maliciosos. Isso envolve instalar e manter atualizados softwares antivírus e antimalware em todas as máquinas, além de ativar o firewall do sistema operacional. Uma boa política de cibersegurança engloba proteção contra vírus, malwares, cavalos-de-tróia e outras ameaças, usando criptografia e protocolos que impedem o roubo de dados.

Por isso é importante ter algumas boas ações no dia-a-dia:

  • Manter sistemas operacionais e aplicativos atualizados, fechando brechas exploráveis por hackers. Especialistas ressaltam que “manter todo o software atualizado” é uma medida simples mas essencial para evitar ataques sofisticados
  • Usar extensões de segurança no navegador. Ferramentas como Malwarebytes Browser Guard podem bloquear sites maliciosos e impedir golpes de phishing antes que o usuário seja vítima.
  • Autenticação de dois fatores e senhas fortes em todas as contas digitais. Habilitar MFA nos sistemas críticos (e-mail corporativo, VPN, portais de tribunais) mitiga muito os riscos de invasão mesmo se a senha for descoberta.

Além das defesas técnicas, cabe alertar profissionais para desconfiar de anexos e links inesperados em e-mails. Campanhas de engenharia social são comuns: um clique errado pode instalar ransomware ou capturar credenciais. Nesse aspecto, a formação contínua do time é a chave para uma defesa eficaz

Proteção de dados

O armazenamento adequado de documentos jurídicos é outro pilar da segurança de dados. É essencial que arquivos sejam guardados em ambientes protegidos, com criptografia em repouso e controle de acesso rigoroso. Firewalls robustos e sistemas de detecção de intrusão devem ser configurados para bloquear tentativas de invasão e impedir a disseminação de malware interno.

Escritórios modernos costumam optar por soluções em nuvem confiáveis ou por storages dedicados (NAS) internos. A nuvem oferece praticidade e escalabilidade, mas exige cuidado: é preciso verificar se o provedor atende às normas de confidencialidade aplicáveis ao setor jurídico.

Em casos muito sensíveis, servidores locais ou NAS controlados pelo próprio escritório podem garantir maior autonomia, utilizando recursos avançados como RAID e snapshots para redundância e proteção dos dados.

Independentemente do ambiente, backups automáticos são indispensáveis. Ferramentas especializadas realizam cópias regulares do servidor de arquivos, garantindo que petições e autos processuais possam ser recuperados em minutos após um desastre.

Isso evita prejuízos operacionais que atrasariam prazos judiciais. Além disso, recomenda-se definir políticas de retenção e classificação de dados: por exemplo, armazenar documentos sensíveis de forma criptografada e manter logs que indiquem quem acessou cada arquivo.

Tais medidas colaboram para cumprimento da LGPD e reforçam a governança de segurança de dados do escritório.

Melhorar a gestão de certificados digitais e gestão de credenciais

Certificados digitais (A1, A3, e-CPF, e-CNPJ, etc.) e tokens são muito usados na advocacia para assinatura eletrônica e acesso a sistemas como tribunais online. São identidades eletrônicas que conferem validade jurídica aos atos: por exemplo, servem para acessar o portal e-CAC da Receita, assinar petições e emitir documentos oficiais.

Como citado anteriormente no texto, tais ativos podem permitir a assinatura de compromissos em nome da firma, e por isso requerem extremo cuidado para armazenamento.

Armazenar certificados diretamente em pastas locais, pen drives ou computadores pessoais é arriscado: em caso de perda, furto ou infecção por vírus, invasores podem usar essas chaves para fraudar documentos, assumir a identidade da empresa ou invadir sistemas internos.

Portanto, a prática recomendada é mantê-los em local seguro e controlado. Uma alternativa moderna é usar cofres digitais na nuvem com autenticação reforçada. Soluções especializadas armazenam o certificado criptografado, exigem PIN ou autenticação forte para liberar seu uso e geram registro de cada acesso. Por exemplo, armazenar certificados em nuvem com backup automático e autenticação de dois fatores é apontado como o método mais seguro atualmente.

Nesse contexto, podem ser adotadas ferramentas voltadas à gestão de credenciais. O Projuris Credenciais Seguras, por exemplo, é uma plataforma que funciona como um cofre digital na nuvem, dedicado a escritórios e departamentos jurídicos.

Ele armazena senhas, certificados digitais e tokens de forma centralizada e criptografada, permitindo atribuir permissões individuais e registrar todo o histórico de acessos. Assim, só usuários autorizados obtêm as chaves necessárias para acessar sistemas importantes (tribunais, ERPs, plataformas de gestão, etc.), sem que cada pessoa tenha que manter o certificado localmente. Essa abordagem reduz riscos operacionais e facilita auditorias internas.

Políticas internas e boas práticas de segurança

A segurança digital depende também de regras internas claras. É recomendável elaborar uma política de segurança da informação que defina responsabilidades e práticas permitidas. Essa política deve mapear quem tem acesso a cada tipo de dado, quais redes e dispositivos são autorizados, e como proceder em caso de incidentes.

Um controle rígido de credenciais (quem pode usar quais sistemas) evita falhas mesmo de funcionários bem-intencionados. Em outras palavras, restringir acessos e revisar permissões regularmente impede que um colaborador acesse arquivos além de seu escopo e minimize erros.

Ferramentas de gerenciamento também ajudam: sistemas de gestão documental e plataformas jurídicas modernas costumam oferecer controle de acesso por usuário, registro de auditoria e criptografia de arquivos.

Isso significa que cada documento sensível só é aberto por quem realmente precisa, e há trilha de quem leu ou alterou um arquivo. Esses controles atendem tanto a normas legais quanto a melhores práticas de segurança de dados.

Outro ponto importante é classificar informações conforme o nível de sigilo. Documentos críticos (como apurações criminais) podem ter protocolos mais rigorosos que documentos rotineiros. E, claro, manter backups automatizados com retenção histórica (por exemplo, por várias semanas) garante que versões antigas possam ser restauradas em caso de ataque ou erro humano.

Treinamento e cultura de segurança digital

Finalmente, a tecnologia sozinha não basta, criar uma cultura de segurança digital é vital. Realizar treinamentos regulares sobre ameaças digitais e boas práticas faz com que advogados e estagiários reconheçam riscos como tentativas de phishing e saibam como reagir.

Simulações de phishing e reciclagem sobre políticas internas são estratégias eficazes. Quando todos entendem a importância de protocolos como não repassar senhas ou sempre travar a tela do computador, o ambiente digital do escritório fica muito mais seguro no dia-a-dia.

Conclusão

A segurança digital e de dados não é mais uma opção para escritórios de advocacia e departamentos jurpidicos, mas uma necessidade estratégica. Investir em medidas como MFA, criptografia, backups e treinamento não só evita prejuízos financeiros e legais como também transmite confiança aos clientes.

Em suma, seguir essas boas práticas fortalece o escritório contra fraudes e ataques, garante a continuidade dos serviços jurídicos e preserva a reputação diante de clientes e órgãos reguladores.

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Tiago Fachini - Especialista em marketing jurídico

Mais de 300 mil ouvidas no JurisCast. Mais de 1.200 artigos publicados no blog Jurídico de Resultados. Especialista em Marketing Jurídico. Palestrante, professor e um apaixonado por um mundo jurídico cada vez mais inteligente e eficiente. Siga @tiagofachini no Youtube, Instagram e Linkedin.

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