As lições de liderança de Pep Guardiola

07/03/2017
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03/01/2023
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O catalão Josep Guardiola, o Pep, é tido por muitos especialistas como o melhor treinador de futebol da atualidade e um dos melhores da história. Seu embate de ideias e conceitos com outro técnico europeu, o português José Mourinho, fez o futebol evoluir taticamente e o transformou em um esporte muito mais complexo.

Antes de um técnico de futebol, Guardiola é um líder. Seus comandados sempre destacam o privilégio que é trabalhar com o catalão. Em 2012, quando ainda estava no Barcelona, Lionel Messi chegou a dizer que Guardiola era mais importante que ele dentro do time. “Desde que ele chegou ao Barça, ele mudou tudo no clube”, afirmou o craque argentino.

Em sete anos de carreira – quatro à frente do Barcelona e outros três no Bayern, de Munique – foram impressionantes 21 títulos dos 33 disputados, incluindo duas Liga dos Campeões da Europa, o torneio de clubes mais importante do futebol mundial.

Mas o mais importante não são os números, e sim a implementação de uma nova concepção ao esporte mais popular do mundo, o que só poderia ser alcançado por um treinador extremamente capaz de liderar fora das 4 linhas.

Agora, Pep Guardiola encara um novo desafio. Dessa vez, seus conceitos estão sendo aplicados no futebol inglês do Manchester City. Muitos destes conceitos, totalmente aplicáveis na carreira de qualquer líder.

Atualmente, Guardiola dirige o jovem craque brasileiro Gabriel Jesus, no Manchester City, da Inglaterra.

“Aos que têm dúvidas, porque eles estão certos.”

A frase que abre o livro escrito pelo jornalista espanhol Martí Perarnau sobre a passagem de Pep pelo Bayern já diz muito sobre o treinador. Guardiola é um homem que duvida de tudo. E a origem dessas dúvidas não é a insegurança nem o medo do desconhecido, mas sim a busca pela perfeição. Ele sabe que alcançá-la é impossível, mas a persegue do mesmo modo.

Por trabalhar num esporte antigo e já muito explorado por estudiosos, Guardiola – assim como qualquer outro profissional do futebol, tem que lidar com conceitos já estabelecidos e aceitos como os mais efetivos.

E é exatamente desses conceitos que ele duvida: os que ninguém mais ousa questionar. O centroavante precisa mesmo ser alto e forte? São necessários mesmo dois volantes para proteger a defesa? Será que é mesmo perigoso demais postar a zaga a mais de 40 metros do gol que se está defendendo?

Esse é um exercício muito delicado, porque temos dificuldade de questionar as mínimas ações que já fazem parte do nosso trabalho desde que nos lembramos, mas é quando fazemos isso que podemos alcançar uma palavra cada vez mais desejada no mercado: inovação. Guardiola é obcecado pelas dúvidas e acredita que só pode encontrar a melhor solução depois de examinar todas as opções.

Noventa e nove por cento dos treinadores não teriam mexido em nada ao assumir o Bayern quando Pep o assumiu, porque o time havia acabado de ganhar os três títulos mais importantes possíveis dentro de uma temporada.

Mas ele quis ir além do senso comum, além do óbvio, e começou a implementar uma nova identidade ao grupo. Uma identidade que refletia as suas dúvidas.

“Aprendi que quando você está certo deve lutar contra o mundo todo.” Josep Guardiola

Ideia, idioma e pessoas

A ideia é a essência de um time e de seu líder. A síntese e a vocação. Ela pode ser comparada à missão de uma empresa, precisa ser clara e cem por cento instigada e aceita na cabeça de cada integrante da equipe.

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No caso dos times de Guardiola a ideia é ter a bola, a posse dela durante a partida. Sendo assim, é preciso fazer com que todos não só se sintam à vontade com a bola, mas que amem tê-la em seus pés. Só a partir daí é preciso definir o que será feito com ela.

O idioma fará isso. Ele é o método que permitirá expressar a ideia no campo de jogo. É o conjunto de sistemas, atividades e princípios que, através do treinamento, devem ser empregados na implementação da ideia. Uma vez que tivermos a bola, o que faremos com ela? Tocar de lado? Fazer lançamentos? Chutar a gol de longa distância?

E por mais elaborados que sejam, ideia e idioma não poderão ser interpretados corretamente se as pessoas não estiverem dispostas a cooperar. Não se trata apenas de ter uma equipe capaz de pôr a ideia em prática – o que é imprescindível.

É também necessário que exista entre ela a predisposição para aprender os segredos do idioma, trabalhá-los e corrigi-los, sem hesitação. Ideia, idioma e pessoas formam conjuntamente o modelo de jogo e são fundamentais para o sucesso ou fracasso de um líder.

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Como líder, Guardiola acredita que é ele quem tem que se adaptar aos liderados, não o contrário. Tanto que em sua apresentação no Bayern, o catalão surpreendeu os jornalistas ao responder todas as perguntas em alemão, idioma que, antes de decidir treinar a equipe de Munique, nunca tinha falado.

O esforço do técnico em aprender o alemão, automaticamente, faz com que os jogadores sintam que também precisam se esforçar para se adaptarem à linguagem da bola proposta por Pep. O projeto é de todos e todos devem se esforçar, tendo o líder como exemplo maior.

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Ao sair do Bayern, Guardiola deixou uma mensagem que vai além das vitórias: “O que engrandece um técnico é o que os jogadores dirão dele no final. Se eu conseguir convencer esses atletas a jogar dessa maneira e se puder ajudá-los a crescer e melhorar ainda mais, estarei muito contente e satisfeito. Tentaremos atuar bem e não apenas ganhar títulos”.

“Eu perdoarei os jogadores se eles não puderem fazer algo direito, mas não perdoarei se eles não tentarem para valer.” Josep Guardiola

Guardiola estudou alemão por um ano antes de assumir o Bayern, de Munique. Em sua primeira entrevista coletiva, surpreendeu respondendo aos jornalistas no idioma local.

A desconstrução como método criativo

“Para criar, precisamos de liberdade, pressão e risco”. A frase é do famoso chef catalão Ferran Adrià, amigo pessoal de Guardiola. Foi ele quem apresentou o método criativo que o treinador aplica na construção de suas estratégias de jogo.

O método consiste em pegar um produto pronto e desmontá-lo, a fim de criar outro produto com as mesmas peças, com uma dinâmica parecida, mas que obtenha um rendimento diferente.

O método é utilizado na moda, por exemplo, para desenvolver diferentes looks com as mesmas peças de roupa, de forma que cada peça cumpra funções variadas em cada nova construção. Ferran Adrià, o chef de cozinha, o aplica para elaborar novos pratos utilizando os mesmos ingredientes.

Se Guardiola é um revolucionário do futebol, isso se dá à sua capacidade de desconstruir. Ele estuda muito, aprende com os sábios, extrai a essência das ideias semeadas nos campos de futebol do mundo inteiro e, com elas, constrói um sistema de jogo próprio, descobrindo novas funções para seus atletas dentro de campo e até novas funções para as próprias funções dentro da estratégia de jogo.

É uma inserção de ideias. A desconstrução dentro da desconstrução. O objetivo deve ser sempre eliminar as deficiências de um movimento e reconstruí-lo a partir de outros princípios, mas mantendo seu fundamento.

Mesmo assim. Guardiola nunca se considerou um gênio criativo, um inventor. Vê-se mais como um ladrão de ideias: “As ideias são de todo mundo, eu roubei o máximo possível”, diz.

“As ideias são de todo mundo, eu roubei o máximo possível.” Josep Guardiola

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